Lula – Biografia (Fernando Morais, Cia das Letras, 2021)

Não há dúvidas de que Lula é, não só uma das personalidades mais significativas da História do Brasil (para muitos, o maior brasileiro que já existiu), como do mundo e a biografia de Fernando de Morais vem para comprovar esse fato.

Mesmo quem não tem acesso à leitura deste livro ou não saiba com detalhes toda sua trajetória política pôde experenciar o impacto da figura do primeiro homem vindo da classe operária a ser presidente do país e de seu governo: e eu sou uma dessas pessoas. E para quem não tem essa dimensão ainda, então sugiro fortemente a leitura.

Antes de ler esta biografia, eu já era apoiadora de Lula e sempre que votei para presidente apertei 13, mas conhecer um pouco de sua vida política e pessoal fortaleceu meu apoio.

Não irei me deter a resumir cada época abordada no livro, apenas 3 pontos importantes: o começo, a relação de Lula com a educação e a fome, e o final desse primeiro volume.

O livro segue uma estrutura interessante, pois começa com o acontecimento mais marcante da vida do presidente: 5 de abril de 2018 (quando Moro decreta a prisão de Lula). Os capítulos iniciais se detém sobre o caso, as incongruências da condução da investigação, a movimentação de apoiadores de Lula (parte muito emocionante), as mensagems de Moro vazadas por um hacker, e finalmente o anulamento do processo culminando com a soltura de Lula.

Para mim foi um começo magnifício porque eu confesso que na época de todo o processo não consegui me ater aos detalhes, eu só sabia de algo: a meu ver, Lula era inocente. Lendo esses capítulos acabei indo atrás de mais informações que não fui na época, fui ver vários vídeos, entrevistas, análises e são capítulos cheio de detalhes que preciso reler mais vezes.

Passando essa parte, o livro volta para 1980, outra prisão de Lula, durante a ditadura, em que ele era líder sindicalista (e pasmem, também foi acusado de ter um imóvel que não era dele kkkk). Depois desse capítulo a biografia segue uma ordem mais cronológica em que conhecemos a infância de Lula, seu primeiro diploma – pelo Senai – o que lhe permitiu ter uma profissão de carteira assinada, “passou a ser o primeiro filho de dona Lindu a receber salário minímo, fixo e mensal”.

“Eu fui o primeiro filho da minha mãe a ter uma profissão, eu fui o primeiro filho da minha mãe a ganhar mais que um salário mínimo, eu fui o primeiro a ter uma casa, eu fui o primeiro a ter um carro, eu fui o primeiro a ter uma televisão, eu fui o primeiro a ter uma geladeira. Tudo por conta dessa profissão de torneio mecânico, por causa do Senai. O período que eu passei no Senai talvez tenha sido o mais importante período da minha vida. Primeiro porque eu estava aprendendo uma profissão, segundo proque acho que foi a primeira vez que eu tive contato com a cidadania. Sabe quele negócio de você estar numa escola deboa qualidade, de você almoçar, de você tomar café decentemente? Então era coisa grã-fina pra mim”

fala de Lula, p. 217

Acho que esse depoimento resume bem a figura de Lula, seus valores como pessoa e presidente e nos dá uma dimensão de sua história e do porquê ser eleito pela terceira vez, ser considerado a voz do povo e chorar ao falar da fome e da educação em seu terceiro discurso de posse. Como Carolina Maria de Jesus já disse: “O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora”.

Este primeiro volume biográfico vai comentar um pouco sobre os casamentos de Lula, as mortes prematuras da primeira esposa e de seu filho, o começo do envolvimento sindical em que Lula dizia não gostar de política, até a mudança desse pensamento com a criação do PT, as perseguições que sofreu tanto na ditadura, como sindicalista, quanto nos últimos anos pela mídia, como mostra também a força de Lula ao passar por tudo isso de cabeça erguida com a certeza de sua missão.

Fernando de Morais ainda nos apresenta um apêndice em que mostra em gráficos e análises como a mídia televista e impressa foi fatalmente culpada na construção da imagem negativa que Lula infelizmente ainda tem em parte do povo brasileiro. Como exemplo, fica claro nas matérias que Moro era colocado como advserário de Lula e não como figura neutra – o que devia ser no caso de um juíz. Em relação a revista Veja foi contabilzado que a publicação teve de 2014 a 2021 o equivalente a um ano inteiro de matérias negativas acerca de Lula e aqui percebemos o poder da comunicação, dos jornais e das revistas na formação de opinião política do povo.

O livro termina com um diálogo magistral entre Lula e Fidel Castro, depois da primeira derrota de Lula nas eleições para governador, em 1982, em que ele quis desistir da política e Fidel fala:

Lula, escuta, desde que a humanidade inventou o voto, nenhum trabalhador recebeu 1 mihão de votos, como aconteceu com você. Você não tem direito de abandonar a política, você não tem direito de fazer isso com a classe trabalhadora.

Aguardo o volume 2.

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